A importância dos modelos na tomada de decisão

Todos nós usamos modelos. Modelos mentais pra entender o mundo, por exemplo.. É assim que o cérebro opera. Não conseguimos lidar com a realidade bruta, mas com uma versão interna dela. O cérebro constrói uma versão interna do mundo externo. As conclusões que tiramos refletem essa versão interna, não a realidade em si. E a qualidade das nossas decisões depende de quão fiel esse modelo interno é ao mundo real.

Engenheiros têm modelos de estrutura, carga, fluxo. Cientistas têm modelos para entender átomos, células, universos. Economistas criam modelos para prever inflação, desemprego, PIB. E empresas também têm seus modelos. A diferença é que muitos ainda usam modelos ruins pra tomar decisões importantes.

Quer um exemplo prático? Pega os diferentes períodos econômicos do Brasil:

  • Nos anos 90, com FHC, foi adotado um modelo econômico baseado em estabilidade monetária e cambial. O foco era conter a hiperinflação com o tripé macroeconômico.
  • Já nos anos 2000, com Lula e o boom das commodities, o modelo passou a ter viés mais desenvolvimentista. Incentivar o consumo interno, políticas de crédito e programas sociais.
  • Depois, em momentos de crise fiscal, o modelo mudou de novo, tentando ajustes via aumento de arrecadação.

As leis econômicas não mudaram. O que mudou foi o modelo adotado pra lidar com elas. E foram esses modelos que moldaram as decisões de cada governo.

Traduzindo pra nosso âmbito: não é a realidade que determina a qualidade das suas decisões. É o modelo que você usa pra entendê-la.

“A qualidade das nossas decisões depende da qualidade dos nossos modelos”.

Quer exemplos de modelos horríveis?

  • Achar que sangria cura doença (sim, inclusive George Washington morreu assim).
  • Achar que queimar bruxa evitava desgraça na aldeia.

Centenas de anos atrás esses comportamentos faziam parte de modelos considerados válidos. Mas eram falsos pois eram decisões ruins.

Agora vamos voltar para nosso âmbito empresarial. O modelo financeiro que você usa é uma das coisas mais importantes para a empresa.

Mas não tô falando do modelo contábil. Tô falando do modelo econômico gerencial. Aquele que entende relações de causa e efeito reais entre:

  • Produto, serviço, canal, cliente,
  • Atividades e processos,
  • E os custos que tudo isso gera.

Esse modelo te ajuda a responder:

  • Quanto realmente custa um cliente?
  • Qual o custo incremental de uma nova linha de produção?
  • Quanto devo reinvestir por ano pra manter minha capacidade?

Enquanto isso, o modelo contábil:

  • é baseado em regras do passado;
  • rateia custos de forma arbitrária ou normas que não condizem com a realidade;
  • foca em fechar balancete, não em prever cenários.

Em resumo:

Tabela Modelos
Aspecto Modelo Contábil Modelo Gerencial
Foco Passado Futuro
Base Regras contábeis Causa e efeito real
Uso Relatório e compliance Decisão e estratégia
  • Um bom modelo financeiro-econômico precisa:

    1. Ser causal: custo ligado diretamente à atividade que o gera.
    2. Ser preditivo: ajudar a prever o impacto de decisões futuras.
    3. Usar custos econômicos reais: incluindo provisões para reinvestimento, custo de capital, diferenciação entre manutenção e crescimento.

    Se você usa o modelo contábil pra tomar decisões gerenciais, está dirigindo somente olhando pro retrovisor. 

    O que você precisa é de um modelo que te ajude a olhar pra frente. Que conecte a estratégia com os números. Que te mostre onde está perdendo dinheiro e onde está a oportunidade.

    Esse é o papel dos modelos financeiros gerenciais. E se você não tem um… bem, talvez você esteja baseando suas escolhas num modelo mental que nem você ou a direção da empresa percebe que está errado.

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